O ex-presidente Lula, que participou na tarde desta sexta-feira (20) da 15ª Caminhada da Liberdade, promovida pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia em comemoração ao Dia da Consciência Negra, foi vaiado pelo público no início do seu discurso. Lula iniciou o pronunciamento agradecendo aos baianos pela recepção e logo foi interrompido pelas vaias de um grupo de participantes da caminhada. Aos poucos, as vaias se misturaram a aplausos, quando o petista lembrou de conquistas alcançadas pela comunidade negra.
Durante a fala, Lula lembrou que as cotas raciais para ingresso de pessoas negras em universidades e cargos públicos representaram avanço nas políticas públicas para promoção da igualdade, mas reconheceu que ainda é preciso avançar.
"Eu sei que ainda falta muita coisa a ser feita, mas nunca na história desse país a gente teve tantos meninos e meninas negras na universidade. Nunca teve um conselho capaz de aprovar as cotas para que os negros tivessem a oportunidade de ser doutores, engenheiros, médicos, físicos, e não apenas ajudantes de pedreiro nas grandes capitais desse país. Nunca nesse país foi dada a oportunidade para que meninas negras pudessem ser médicas, dentistas, ser sociólogas e não apenas empregadas domésticas, como eram”, discursou.
Ainda durante o pronunciamento, o ex-presidente falou que a verdadeira história dos negros não é reconhecida porque não são contadas nas escolas. "A história do povo negro nesse país não é conhecida porque as escolas não ensinam corretamente o que viveu o povo negro. O povo negro deste país já fez muito mais do que os livros contam. Eles não falam da história da Zeferina, que queria libertar o nosso povo. Eles não falam da influência dos Malês que queria colocar Salvador de perna para o ar para que o negro e a negra fossem respeitados nesse país”, disse.
Comemoração
Após discursar, o ex-presidente, o governador Rui Costa e a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Vera Lúcia, acompanharam a passagem da caminhada pela Avenida Estada da Liberdade. Os secretários Jorge Portugal (Cultura), Geraldo Reis (Justiça), Olívia Santana (Políticas para as Mulheres), além dos ministros Juca Ferreira (Cultura), Nilma Guedes (Promoção da Igualdade Racial).
(Foto:Diogo Costa)
De acordo com a secretária, "O 20 de novembro é emblemático para o movimento negro porque celebra a imortalidade e o legado de Zumbi dos Palmares, considerado um ícone da luta pela igualdade racial no Brasil”. A titular da Sepromi também pontuou que a pasta desenvolve "uma série4 de ações afirmativas voltadas à valorização das comunidades negras” e que está atenta e apoia "o protagonismo dos movimentos sociais para celebrar os avanços e conquistas futuras”.
Neste ano, a 15ª Caminhada da Liberdade homenageou o petista e teve início na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, e seguiu até o Pelourinho e teve apresentação de entidades de matriz africana, como o Ylê Aiyê, Muzenza, Cortejo Afro, Os Negões e o Malê de Balê.
Em outro ponto da cidade, no Campo Grande, uma outra caminhada também marcou o dia. A 36ª Marcha da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, realizada pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), reivindicou melhoria nas políticas públicas para os negros.
"É um moente de empoderamento e de reflexão. Nós queremos que as políticas sejam aprofundadas, nós queremos mais políticas, mas queremos que o país continue na direção de implementar políticas públicas para todos os oprimidos do país e da população negra. É um momento de cobrança e de enfrentamento”, disse Hamilton Oliveira, coordenador do Conen.