X

Escolas têm dez dias para dar explicações ao Procon após exigência de nome limpo

Escolas têm dez dias para dar explicações ao Procon após exigência de nome limpo

Após denúncia de práticas abusivas, sindicato tem 10 dias para apresentar planilhas de custos desde 2013 


 

 

Madson está com nome sujo e teme que escola não matricule sua filha
(Foto: Robson Mendes)

 

O Procon-BA notificou, na terça-feira (21), o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe-BA), após denúncia de práticas abusivas feitas pelo CORREIO.

A medida do órgão de defesa do consumidor tem como objetivo resguardar os direitos dos pais de alunos das escolas particulares no que diz respeito às medidas e aos reajustes considerados ilegais pelo Código de Defesa do Consumidor.

 

O sindicato tem 10 dias para apresentar ao Procon as planilhas de custos das escolas e colégios integrantes da associação, referentes aos biênios 2013/2014 e 2014/2015. Os documentos serão encaminhados para a realização de uma perícia jurídica que irá determinar a legalidade das cobranças.

A orientação dada pelo Sinepe às escolas é que elas só efetivem a matrícula da crianças após consulta ao SPC/ Serasa e, em caso de transferência, com apresentação de atestado de quitação da escola anterior.

Estas orientações fizeram que o Procon também agendasse para amanhã uma reunião com a diretoria do Sinepe para discutir uma solução para os problemas de inadimplência, que, segundo as escolas, motivam medidas defensivas.

"Atitudes abusivas não serão toleradas. A intenção do Procon é colaborar para um diálogo entre as escolas e os pais que contratam o serviço, que mesmo sendo privado é algo essencial. Não estamos falando de um produto qualquer, mas de educação”, afirma o superintendente do órgão, Ricardo Maurício Soares.

Sanções

Caso o sindicato não apresente a documentação exigida, o Procon pode aplicar multas de acordo com a extensão do dano. "O Procon quer abrir todos os canais de diálogo, mas para isso é necessário que as escolas não violem o Código de Defesa do Consumidor”, explicou Soares.

Procurada pela reportagem desde o início da tarde até o fechamento da edição, a presidente do Sinepe, Maria Augusta Oliveira, não foi encontrada para comentar a notificação emitida pelo Procon. 

O consultor da diretoria do Sinep Jaime David Cardoso também foi procurado, mas a secretária da instituição, de prenome Raquel, informou que ele não estava na sede e que ele não tem celular para que o CORREIO buscasse outra forma de contato.

 

Preocupação

 

Desempregado há 2 anos e pai de uma garota de 4, Madson Marinho ficou com o nome sujo depois de comprar uma motocicleta para trabalhar como mototaxista. Sem residência fixa, Madson se divide entre a casa do pai e da mãe e usa o dinheiro ganho com as corridas para ajudar a pagar a mensalidade de R$ 100 da escola da filha.

"Uma decisão dessa (de verificar se os pais das crianças estão com o nome limpo para efetivar matrículas) não traz benefício pra ninguém, só traz revolta ao cidadão”.

Ele confessa que pode até atrasar alguns dias após o vencimento, mas que nunca deixou de honrar o compromisso com a escola da filha. "A educação dela está em primeiro lugar”, diz, temeroso de que por causa do nome sujo não consiga matricular a filha na escola no ano que vem.

A funcionária pública Maria Aparecida Souza também tem receio sobre os efeitos da postura das escolas. Ela está há 3 anos com o nome no cadastro de devedores. Ela garante que as dívidas não dizem respeito à mensalidade de R$ 450 da escola particular onde seu filho mais velho, de 8 anos, estuda. "Nome sujo não é sinal de inadimplência com a escola”. 

Mãe de outro garoto de 2 meses, Aparecida pode ser impedida de matricular seu filho mais novo e de colocar o filho mais velho em outra instituição de ensino no próximo ano devido ao fato de ela e o marido não terem o nome limpo.

Se essa exigência estiver mesmo no contrato na hora de matricular os filhos para o ano que vem, vai ficar difícil garantir a vaga em uma escola particular. "Uma medida como essa vai me prejudicar e prejudicar meus filhos”.

A avó dos meninos, a dona de casa Mirian Souza, se preocupa com o futuro dos netos. "Uma decisão como essa é absurda, ninguém tem nome sujo porque quer. A gente deixa até de comer pra pagar escola”, afirma. 

O consumidor que se sentir lesado pode dirigir-se ao Procon ou encaminhar sua denúncia para o e-mail denuncia.procon@sjcdh.ba.gov.br. A reclamação pode ser feita ainda pelo telefone (71) 3116-0567 e pelo WhatsApp (71) 9618-7320.

 

 

Por Priscila.natividade@redebahia.com.br

 

Por: MDD
Envie uma notícia
Curta nosso perfil
WhatsApp